InfoGraFia – TraBaLHo FiNaL

by homogeneous

Quer seja nos cafés, no barbeiro ou no largo da freguesia, enquanto se joga às cartas ou se lê o jornal, a temática das conversas é dominada, muitas vezes, pelo futebol. As discussões repetem-se em torno de polémicas desde o primeiro campeonato, até aos dias de hoje. Fique a conhecer os números oficiais que dão o pontapé de saída para as conversas mais acesas entre adeptos.

Memória Descritiva

Criar a nossa narrativa. Refletir sobre a história que queremos contar. São palavras do professor Bruno Giesteira que funcionaram como plataforma de lançamento da nossa infografia jornalística: “uma modalidade discursiva que se caracteriza pela presença indissociável de imagem e texto numa construção narrativa, permitindo a compreensão de um fenómeno específico, como um acontecimento jornalístico, ou o funcionamento de algo complexo ou difícil de ser descrito numa narrativa textual convencional.” (Teixeira, 2009)

De facto, iniciamos o projeto com a ideia errada, ou melhor, com uma incorreta ordem dos passos essenciais à realização do projeto. Só com a orientação do professor Giesteira é que compreendemos que iniciar a realização do trabalho com a reflecção da forma como pretendemos apresentar os diferentes dados, origina um espaço de manobra restrito, cortando-nos a dinâmica e a espontaneidade. De facto, o mais importante é não esquecer que “la infografía es, ante todo, un arte funcional. Su ejercicio no consiste en encontrar estructuras, estilos, tipografías y colores que sean agradables a los ojos, sino en usar todos esos recursos para mejorar la comprensión y el análisis” (Alberto Cairo).

Assim, descobrimos que “escrever a nossa história”, ou melhor, definir qual a história que tencionamos contar é de facto o primeiro passo. Tendo sempre em conta que contamos uma NARRATIVA VERÍDICA E NÃO FANTASIOSA, NARRATIVA QUE NASCE DE DADOS E DE CRUZAMENTO DE INFORMAÇÃO, NÃO DA NOSSA IMAGINAÇÃO!

Ambos os elementos do HoMogEneous são “amantes de futebol” e foi dessa mesma partilha de interesses que surgiu o tema: Os Três Grandes do Futebol Português : Números, Polémicas e Personalidades . Seguindo as explicações e os conhecimentos de Sara Freitas e Renato Silva, encontramos neste tema a possibilidade de introduzir explicações, comparações, analisar factos continuados e desvendar detalhes que nunca teriam sido antes apresentados e analisados. Procuramos fornecer aos nossos visualizadores a capacidade de observar a evolução das conquistas do campeonato nacional e competições internacionais, tendo em conta as variáveis que, desde sempre, os adeptos referem nas enumeras discussões futebolísticas no café, no barbeiro ou no jardim da freguesia enquanto jogam às cartas. Quem de nós é que nunca ouviu as conversas em que os benfiquistas falam apaixonadamente da pantera negra, ou dos sportinguistas que se lamentam de possivelmente ter sido modificado o destino clubístico deste jogador. Impossível é também ignorar as queixas, mais ou menos brincalhonas, dos adeptos verdes e brancos e azuis e brancos quando apontam o tempo e as tendências clubísticas de Salazar aos anos de domínio benfiquista. Mais recentemente ouvem-se ainda as vozes dos que, de olhos brilhantes, sorriem ao falar dos 30 anos de Pinto da Costa, e daqueles que se exaltam quando nos recordamos do processo Apito Dourado. É neste contexto, de todos estes factos e acontecimentos, quer dos clubes, quer da nossa história como país, que nascem rivalidades e lendas clubísticas. É nesta mesma dimensão que procuramos oferecer a todos os adeptos a possibilidade de verificar, com dados verídicos e fundamentados, se todas estas dinâmicas referidas se constatam ou não. Sem tomarmos qualquer partido apresentamos apenas resultados comparados e agrupados, segundo os interesses dos apaixonados do mundo do futebol, de forma a cada indivíduo observar e tirar as suas próprias conclusões. Esta é a nossa narrativa!

Definida a narrativa iniciamos a recolha dos dados. Necessitávamos do total de campeonatos portugueses ganhos por cada clube, e de uma tabela organizada cronologicamente com cada época e o respetivo vencedor. Encontramos toda essa informação num mesmo site e iniciamos a organização da informação. Contabilizamos as vitórias do campeonato nos anos de ditadura, ou seja da temporada 1934-35 (visto que nos dois anos anteriores o campeonato português não tinha a mesma estrutura e os registos oficiais só se contabilizam a partir deste ano), à temporada de 1973-74. Seguimos este método para os 30 anos de Pinto da Costa, os anos de Eusébio no Benfica e o período do processo Apito Dourado. Recolhemos ainda dados relativos às vitórias em competições internacionais numa outra página de internet, pois consideramos que é um parâmetro importante na análise da força e do peso de um clube. Estes são “os personagens” da nossa narrativa, são os elementos que construíram a nossa história!

Estão recolhidos os dados, tempo de passar ao “papel de realizador”. Ou seja, é tempo de construir a forma como os nossos personagens principais (dados, informação e acontecimentos) se vão apresentar e relacionar. Esta é uma fase criativa mas que acarreta responsabilidades. O conteúdo tem de ser apresentado de forma correta, explicita, organizada e clara, sem no entanto perder o fator de inovação, o fator que diferencie esta infografia de outras tantas que foram realizadas no mundo do desporto. A nossa inspiração surgiu com a visualização de dezenas e dezenas de infografias jornalísticas, quer de jornais online portugueses como o “Público”, quer de jornais online estrageiros, como “The Guardian”, e “The New York Times”. No que diz respeito aos elementos infográficos, recorremos à utilização de gráficos de barras (em estilo de pirâmide) e à utilização de elementos visuais simples como a forma de um boneco, as linhas gerais de um apito e círculos, pois um dos grandes objetivos das infografias é, segundo Edward Tufte, “display measured quantities by means of the combined use of points, lines, a coordinate system, numbers, symbols, eords, shading, and color”. Estas escolhas, apostas em simplicidade resultaram também da orientação do professor que nos fez compreender que o segredo está em passar a informação de forma rápida e clara. Não devemos sobrecarregar a leitura visual dos indivíduos com informações desnecessárias à aquisição dos dados e da informação. Além do mais, não devemos correr o risco de generalizar, como por exemplo desenharmos o símbolo de uma taça para constatar as vitórias de um clube. A aposta nesta figura iria suscitar a ideia de que o clube só ganhou aquela taça em particular, daria a informação errada de que a taça sempre teve determinado aspeto entre outras possíveis lacunas (lembremo-nos do caso do desenho da mochila militar no El País aquando do atentado terrorista). Tivemos também  em atenção o cuidado que é necessário ter quando procuramos “embelezar” a nossa infografia. Como jornalistas temos de ter em conta que os dados não podem ser alterados ou viciados para que a infografia tenha um melhor design. Segundo o próprio Alberto Caeiro, em primeiro lugar um jornalista deve “estructurar la información para que resulte legible y analizable; después, escoger los artificios visuales mejor adaptados a las tareas en las que el gráfico debe auxiliar; por último —y solo por último— embellecer la presentación, pero no en el sentido de añadir adornos gratuitos. Como dice Stephen Few sobre una curiosa visualización de la Organización para la Cooperación y el Desarrollo (OCDE), lo funcional no está reñido con lo bello, siempre que lo segundo sea un recurso para reforzar lo primero”.

Na nossa infografia é também possível verificar que, embora tenhamos tido algum cuidado com a realização de uma escala apropriada à realidade, procuramos à partida, através do tamanho dos círculos (mais um elemento simples de comunicação visual, cor e linha) e do tamanho das figuras demonstrar, logo no primeiro olhar, qual o clube que vence aquela variável, qual é o conquistador de mais títulos etc., sem que fosse necessária a comparação dos números. Esta aposta na divulgação dos resultados pelos tamanhos distintos prende-se pelo necessidade de, em infografias, não cometermos o erro de colocar informação que deixe dúvidas (por exemplo: afinal qual foi o que ganhou mais taças), ou que origine dificuldades na interpretação. Porém, estas escolhas estão também relacionadas com o tema que estávamos a abordar, ou seja, independentemente de qualquer que seja a narrativa o adepto vai procurar sempre verificar “quem é o maior”, “quem é o vencedor”.

Nesta fase as principais dificuldades passaram pela gestão e organização do espaço que tínhamos no  illustrator e, sobretudo pela forma como iríamos cruzar e conjugar diferentes dados, de modo a que estes não surgissem simplesmente próximos uns dos outros em termos de espaço mas isolados em contexto. Debatemo-nos com estas questões mas lutamos para as ultrapassar com a leitura de alguns textos e de uma contínua visualização de trabalhos de diversos autores. Assim, acreditamos que conseguimos ultrapassar os obstáculos e realizar uma boa infografia jornalística. Prontinha para ser colocada num jornal desportivo português (modéstia à parte)!

Finalmente o trabalho foi colocado no nosso blog após a escrita de uma pequena introdução, ao estilo jornalístico. De forma muito resumida dissemos ao leitor da nossa página o que é que poderia ver na infografia, a possível utilidade e o fator de inovação da mesma e convidamo-lo a tirar as suas conclusões.

Estava escrita a narrativa verídica, selecionadas as personagens informativas, e desenhado todo o cenário onde a ação se apresenta, desenrola, e onde pode ser observada. Fica escrita a nossa história baseada em factos e números reais, mas deixámos para cada um de vocês, a possibilidade de fazer a sua interpretação, de tirar as suas conclusões. A possibilidade de livremente cada olhar, de cada individuo escrever a sua sinopse, de encontrar o desfecho, de acordo, ou não, com as cores (do clube) do seu coração.