AnÁliSe dE Uma InfoGrafiA

by homogeneous

“The world is complex, dynamic, multidimensional; the paper is static, flat. How we are to represent the rich visual world of experience and measurement on mere flatland? (Edward Tufte, 1990)

Procurando transcrever este mundo complexo, dinámico e multidimensional para o papel ou computador, surgem as infografias.

Das infografias que pesquisamos decidimos selecionar a infografia que acabaram de observar e que diz respeito, passando a citar o título da mesma, aos “Passos dos líderes para salvar o Euro”. A escolha desta infografia prendeu-se pela combinação dos diferentes elementos, nomeadamente, a existência de timeline, de mapas e de uma espécie de gráfico de barras tudo em simultâneo e absolutamente interligado de uma forma simples coesa e dinâmica. Esta infografia pode ser observada no jornal público, e aconselhamos a sua consulta para que esta análise seja melhor compreendida.

Começamos por afirmar que o assunto, ou melhor a sucessão de acontecimentos e da temática que se pretende tratar, adequa-se na perfeição à utilização de uma infografia. Existe um facto continuado, nomeadamente, as constantes reuniões entre os líderes dos países da União Europeia no contexto de combate à crise, factos que envolvem percursos e detalhes curiosos. Neste sentido, de forma a descrever as dinâmicas dos encontros entre as várias personalidades políticas, realizou-se, através de um mapa e de setas, a representação de diversas viagens.

Mas não é tudo. A narrativa que pretendem transmitir passa pela seleção de cinco líderes estratégicos. O “Público” destaca as reuniões de Angela Merkel e de Nicolas Sarkozy, ditos os líderes da zona Euro e destaca também os países que estão em pior situação, Grécia, Portugal e Itália, verificando-se assim uma orientação ao leitor, uma espécie de “guião” para as possíveis constatações que cada leitor poderá retirar, sem no entanto lhe retirar a liberdade de cruzar a informação à sua maneira. Do mesmo modo, demonstra-se um cuidado com a maneira como se cruzam os dados de maneira relevante, de forma à infografia poder dar origem a leituras com interesse para os indivíduos.

Ao nível da gestão de informação podemos verificar que existiu uma organização ao nível da localização. Foram assinalados no mapa as capitais dos países que cada líder dirige, porém, verifique-se que o mapa é um elemento simples, sem grande elaboração visual. O mapa contém apenas o que é essencial: A capital dos países e líderes envolvidos e, posteriormente, a indicação, através de setas, das deslocações para as suas reuniões. Assim, o leitor não é bombardeado de elementos e informações visuais que em nada complementam a narrativa e que servem apenas para saturar a observação. Ainda ao nível da gestão de informação, assinalamos a timeline, ou seja, uma gestão temporal dos dados, que permite a quem consulte a infografia observar as dinâmicas das reuniões dos líderes ao longo dos meses, e, se pretender uma análise mais detalhada, poderá ainda ter acesso aos acontecimentos mais relevantes de caráter económico e político, dentro de cada mês.

Falamos agora da forma como se apresenta a informação. Diferentes tipos de informação exigem a utilização de elementos infográficos diferentes.

“Uno de los primeros pasos en cualquier proyecto debe ser plantase qué es lo que uno prevé que los lectores intentaran hacer con el gráfico. Queremos que comparen números? Entonces, tal vez la mejor opción sea una serie de barras.” (Alberto Cairo).

Essas mesmas considerações que devemos ter em relação à forma como devemos apresentar determinadas informações, foram constatadas na infografia analisada e estão em concordância  com os conhecimentos apreendidos nas aulas: Por exemplo: Para a divulgação do “quem” foram de facto utilizadas as fotografias dos líderes dos países; Em explicação do “onde” encontramos o mapa e relativamente ao “quanto” (números) mais uma vez em concordância com o que foi lecionado, verificamos a aposta na utilização de barras que nos permitem comparar a quantidade total de reuniões que estes políticos somaram ao longo dos meses de 2012. Portanto em concordância com a afirmação de Alberto Cairo; Finalmente, para retratar os acontecimentos ao nível temporal (quando), temos presente na infografia a timeline.                                                                       ´

Como já referimos na elaboração desta infografia estão presentes elementos visuais simples porque o trabalho de um designer passa por dar acesso a composições visuais, livres de  complexidade, descomplicando o complicado, tal como Edward Tufte  diz no seu livro ” The Visual Display of  Quantitive Information”: “What is to be sought in designs for the display of information is the clear portrayal of complexity. Not the complication of the simple; rather the task of the designer is to give visual access to the subtle and the difficult – that is, the revelation of the complex. Assim verifica-se uma ausência de complicação no preenchimento dos espaços, na cor ou nas formas. A simplicidade resulta numa imagem mais “Clean” que veicula com maior facilidade os dados e a narrativa geral que pretende ser transmitida. Ao nível da cor verificamos também uma contenção nos preenchimentos e nos tons utilizados nomeadamente no mapa e na timeline, tons neutros (cinza) que não saturam o olhar. O essencial é transmitir a informação de uma maneira inovadora e dinâmica sem perder a objetividade e o critério jornalístico.

O parâmetro em que esta infografia se destaca de muitas outras que observamos passa pela constante atualização de que pode ser alvo. A infografia não está terminada, podem ser acrescentados à timeline novos acontecimentos e novas reuniões que passaram também a constar no mapa. Esta possibilidade é de facto fascinante. Os dados vão surgindo, a narrativa continua. Porém o jornal Público peca por um certo desleixo e abandono, visto que a última modificação à infografia foi feita já no dia 30 de Março.

Finalmente apontamos neste exemplo infográfico que selecionamos, a capacidade de, através de uma observação, tirar conclusões relativamente ao líderes mais ativos no combate à crise, o local central das reuniões, os países que menos têm participado nestas mesmas reuniões sem que estas constatações nos sejam “impingidas” na leitura de um artigo de jornal.

Lembramos apenas que, apesar de apresentarmos aquilo que consideramos ser um bom exemplo de infografia, durante a pesquisa tivemos a oportunidade de encontrar algumas imperfeições noutros casos. Nomeadamente, saturação de dados, uma má hierarquização ao nível de tamanho, tratamento de dado de forma não tão adequada e a utilização de elementos visuais demasiados complexos que “distraiam” e saturavam a leitura. Porém, de facto, de uma maneira geral, existem muito bons exemplos de infografias, criativas e muitas delas de temas curiosos, que nos indicam que o futuro do jornalismo caminhará de mãos dadas com esta nova forma de dar a conhecer os acontecimentos e o mundo ao nosso leitor. Nunca esquecendo que:

“Todo buen infográfico es funcional como un martillo, ‘multicapa’ como una cebolla, bello y verdadero como una ecuación matemática” (Alberto Cairo)