AnÁlisE dA FotoGrAFIA EsCoLHida

by homogeneous

 

 

“O Artista é autor de peças raras, únicas, feitas pelas própria mãos. Trabalha de um modo pessoal, procurando exprimir, numa linguagem caracterizada visualmente por um estilo próprio as sensações que nascem nele segundo os estímulos que recebe do mundo em que vive: Trabalha para si próprio e para um elite que a possa entender.” (MUNARI, Bruno / Artista e Designer / Ed. 70, Lisboa)

 

Ainda antes de passarmos à realização da composição visual, levamos a cabo uma recolha fotográfica que nos permitisse encontrar inspiração e, mais importante ainda, reconhecer e observar concretamente os elementos básicos da comunicação visual que constituem tudo o que de mais complexo  existe no mundo e que convivemos.  E como diz Ezio Manzini em “A Matéria da Invenção”, “Design significa também planear e escolher, ou seja, receber e processar estímulos, seleccionar modelos de pensamento e sistemas de valores.”

 

A nossa busca resultou em fotografias onde facilmente podemos visualizar o ponto, a linha, a cor, a textura e até mesmo a “simulação” de algum movimento.

 

Como é possível encontrar no nosso blogue, resultaram fotografias distintas onde numa se exalta a cor, noutras a linha e também junções dos mais variados elementos, onde estes são austeros, geométricos e outros fluidos, dinâmicos.

 

Confessámos que não foi, portanto, tarefa fácil escolher apenas uma fotografia entre tão variado leque, porém foi uma das fotografias mais versátil e diferente – alvo de várias interpretações – que mereceu a nossa atenção. Ao contrario da maioria das imagens que continhas elementos e linhas mais geométricas, esta foto representa algo muito abstracto, algo de facto nos faz observar apenas e só os elementos que a compõem, dada a impossibilidade de compreendermos o que estamos a observar.  Como diz Bruno Muntari no livro Artista e Designer “O artista trabalha com a fantasia, enquanto o designer usa a criatividade.”

 

Falando mais concretamente, chamamos à atenção para a existência dos pontos que acompanham sobretudo a parte média-inferior da imagem, as linhas que parecem nascer da extensão e “melting” dos pontos.

 

No entanto, não podemos deixar  de referir  a riqueza da cor desta fotografia. Os castanhos, beges, parecem fundir-se de uma maneira tão bela e cúmplice, quase poética, formando uma espécie de degradé que enaltece, sem margem de dúvida, a imagem. E desperta ainda mais um sentimento de fascínio. Os tons esbranquiçados atribuem à imagem luz irradiante à imagem.

 

A maneira como estão dispostas as linhas e os pontos criam também a sensação que estão em queda, um efeito de precipitação dando um determinado movimento à imagem.

 

Finalmente, afirmámos a existência de uma textura “gretada” quando aproximamos mais a imagem. Verifica-se solidez do objecto e algum relevo.

 

Independentemente da nossa análise, certo é que podemos olhar durante horas, tentar descodificar o que estamos a observar, tentar imaginar o que vemos, mas a verdade é que independentemente do esforço e versatilidade que utilizemos, a imagem continuará a deslumbrar-nos com o mistério de não sabermos a que “todo” pertence.

Esta frase define bem o exercício que efectuamos para juntar as partes e tentar formar um todo: “Parece que as coisas que vemos se comportam como totalidades. Por um lado, o que se vê numa dada área do campo visual depende muito do seu lugar e função no contexto total. Por outro, alterações locais podem modificar a estrutura do todo. Esta interação entre todo e parte não é automática e universal. Uma parte pode ou não ser visivelmente influenciada por uma mudança da estrutura total; e uma alteração na configuração ou cor pode ter pouco efeito no todo quando a mudança permanece, por assim dizer, fora da trilha estrutural. Estes são aspectos do fato de que qualquer campo visual comporta-se como uma Gestalt.” (ARHEIM, Rudolf / Arte & Perceção Visual / Ed. Pioneira (Editora da Universidade de São Paulo), São Paulo, 4a Edição, 1988. (Art and Visual Perception. The New Version; Ed. Regents of the University of California, 1954, 1974))

 

Para os mais curiosos aqui fica “o todo” da nossa imagem: um conjunto de pontos, linhas, texturas, cores e todos os outros elementos básicos da comunicação visual.